sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Transplante de Medula Óssea em Idosos

Segue abaixo reportagem do portal Estadão de 10/09/2012:


Novas técnicas abrem possibilidade de transplante de medula óssea em idosos

Mudança do perfil do transplantado se deve à descoberta de novas drogas e à evolução de técnicas médicas de outras instâncias para fazer os assentamentos

10 de setembro de 2012 | 22h 30

 

A descoberta de novas drogas e a evolução de técnicas médicas têm mudado o perfil dos pacientes que recebem transplante de medula óssea de doador – aparentado ou não. Há 15 anos, por conta dos riscos, pessoas com mais de 55 anos não eram submetidas ao procedimento. Hoje, hospitais particulares e universitários já fazem o transplante naqueles com mais de 70 anos. A mudança no perfil do transplantado foi um dos temas do 16.º Congresso da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea (SBTMO), no mês passado.

Dois estudos recentes dão esperanças às pessoas com mais de 70 anos que precisam de transplante de medula óssea de um doador, os chamados transplantes alogênicos. Um deles foi o levantamento feito pelo Registro Internacional de Transplante de Medula Óssea (CIBMTR, na sigla em inglês), com base em outras pesquisas, que encontrou resultados similares em pacientes jovens e idosos para o chamado transplante não mieloablativo – isso quer dizer que a medula óssea do paciente não precisou ser bombardeada por altas doses de radioterapia ou químio.

“Os médicos chegaram à conclusão de que nem sempre é necessário. Pode-se dar menor dose de químio ou de rádio, só para permitir que a célula do doador seja enxertada no paciente. Essa célula é capaz de fazer algumas reações imunológicas e lutar contra a doença, como, por exemplo, a leucemia”, explica Nelson Hamershlack, hemoterapeuta do Hospital Israelita Albert Einstein e sócio fundador da SBMTO.

Essa é uma das técnicas utilizadas no Hospital Universitário da Unicamp. “Ela reduz de maneira importante a toxicidade do procedimento. É uma técnica consolidada no mundo inteiro e no Brasil e permitiu que pessoas mais combalidas fizessem o transplante”, afirma o onco-hematologista Carmino Antonio de Souza, presidente da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH).

Outro estudo foi feito em parceria pelo MD Anderson Cancer Center, no Texas, e o Einstein. Nesse caso, foram analisados 79 pacientes, com idades entre 55 e 76 anos, que tiveram a medula suprimida (transplante mieloablativo) com medicamentos mais modernos e menos tóxicos. “Esse estudo mostrou que em pacientes sem doenças associadas, como diabetes, hipertensão, cardiopatias, os resultados também foram semelhantes aos dos mais jovens”, aponta Hamershlack. Dos pacientes, 71% tiveram remissão completa.

Expansão. Para o médico, os dois estudos “documentam” que o transplante alogênico é possível em pacientes mais velhos, dependendo do tipo de doença e a condição física. “Nosso pleito ao Ministério da Saúde é de expandir a idade dos pacientes. Há um envelhecimento da população por causa da melhor qualidade de vida. Nessa idade mais avançada, doenças como leucemia e síndrome mielodisplásica são mais prevalentes”, afirma o médico. “A SBTMO já chegou a um consenso. Há possibilidade de expandir a idade do paciente, em vez de privá-lo dessa solução terapêutica importante.”

Hoje, a portaria ministerial estabelece que o Sistema Único de Saúde (SUS) reembolsa gastos com transplantes autólogos (em que são usadas as células-tronco do próprio paciente) em pessoas com até 75 anos; transplante de doador aparentado, com supressão da medula, para aqueles com até 65, e até 60 anos para transplante com doador não aparentado.

“Uma regra dessa acabaria com a possibilidade de o meu pai nascer de novo”, resume o advogado Diego Nicolau Rodriguez, de 29 anos, filho do cirurgião cardiovascular Antonio Rodriguez Souza, de 74 anos, que recebeu a infusão de células-tronco da irmã, de 82, no mês passado.

O médico, que sofria de mielodisplasia – mal funcionamento da medula óssea, que leva à produção inadequada das células sanguíneas –, passou pelo procedimento no Einstein, em 1.º de agosto. Durante mais de ano, Souza foi tratado com medicamentos e transfusões de sangue, até que o estado de saúde se agravou e o transplante se tornou a única alternativa.

“Foi traumático, mas foi um sucesso. Mostra que uma pessoa mais velha pode tanto ser doadora como receptora. Meu pai já não tinha chance nenhuma. Agora, poderá ver o casamento da minha irmã, daqui a seis meses.”

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Comentários

Bom dia...abro novamente um post para responder algumas dúvidas que surgem durante nossas conversas sobre Hematologia. Lembrando que questões mais específicas ou complexas podem ser enviadas diretamente a mim pelo e-mail lcpinheiro168@hotmail.com, e consultas completas agendadas em minha clínica em Ribeirão Preto-SP pelo (16)-3289-0900. Solicito tambem que as postagens dos comentários sejam identificadas ao menos com seu primeiro nome, já que principalmente nestes últimos dias houve várias questões que surgiram para mim apenas como Anônimo...
Dentre os comentários sem identificação, selecionei 5: em dois deles a preocupação com o termo linfocitose no hemograma; isto não significa necessariamente uma doença, pois crianças, por exemplo, tem uma linfocitose normal para a idade. Já em adultos, quadros virais (como o resfriado) são os maiores causadores de linfocitose, principalmente moderada. Grandes linfocitoses, ou persistentes, devem ser investigadas. Em outros dois, uma definição melhor da falsa plaquetopenia: é uma contagem baixa de plaquetas no hemograma, sem que isto corresponda à realidade, ou seja, um erro técnico, geralmente sem culpa do laboratório. Normalmente ocorre pelo contato prolongado do sangue colhido com o anticoagulante presente no tubo de coleta. Sou tambem questionado sobre a influência da plaquetopenia no dia-a-dia; como ela é fundamental para a coagulação do sangue, ela pode causar hematomas, pequenas hemorragias (como sangramento gengival após escovação) e deve-se ficar muito atento se o paciente terá de passar por procedimentos (como uma cirurgia, uma extração dentária), já que nestes casos é natural que a hemorragia seja mais volumosa. Outro comentário anônimo pergunta se há cura para a leucemia...em primeiro lugar vamos lembrar que há vários tipos de leucemia, então algumas tem altas chances de cura e outras não.
Silvana Oliveira pede-me um post sobre o assunto neutropenia; os detalhes sobre a neutropenia estão dentro do post Leucopenia, publicado em 24/01/2010.
Marcela solicita um exemplar do livro "Interpretação do Hemograma na Pediatria", cujo valor já com o frete incluso é de R$ 50,00. O pedido pode ser feito pelo e-mail acima, de qualquer lugar do país.
Um abraço e até a próxima.

domingo, 2 de setembro de 2012

Ácido Fólico na Gestação

Segue abaixo reportagem do portal Folha de 30/08/2012:

30/08/2012 - 05h00

Prevenção com ácido fólico na gravidez é rara e incorreta no Brasil


DÉBORA MISMETTI
EDITORA-ASSISTENTE DE "CIÊNCIA + SAÚDE"


Uma medida simples para evitar malformações em bebês ainda é pouco adotada pelas brasileiras e será tema de campanha nacional com lançamento marcado para hoje em São Paulo.

Um levantamento com 500 mulheres realizado pelo médico Eduardo Borges da Fonseca, professor de obstetrícia da Universidade Federal da Paraíba, mostra que só 13,8% tomaram suplemento de ácido fólico antes de engravidar.

O uso dessa vitamina ao menos 30 dias antes do início da gestação, continuando até o terceiro mês, reduz em cerca de 75% a ocorrência dos defeitos de fechamento do tubo neural (a região do embrião que vai dar origem ao sistema nervoso central).

Hoje, 1 em 1.000 crianças nasce com algum desses problemas no país. Os mais comuns são espinha bífida (exposição dos nervos da medula espinhal) e anencefalia.

A anencefalia leva à morte do bebê. No caso da espinha bífida, a gravidade varia conforme a posição da lesão e a extensão. Algumas crianças não precisam de tratamento e outras podem ser submetidas a cirurgia logo após o parto. Mas muitas, mesmo após a operação, sofrem sequelas, como paralisia e dificuldades de aprendizagem.

No estudo, feito em João Pessoa, a maioria das que usaram o ácido fólico o fez de forma incorreta, muitas vezes com doses maiores dos que as ideais (de 400 microgramas por dia). Estudos com animais apontam que a suplementação em excesso pode levar a bebês com baixo peso.

Cerca de metade da amostra era de mulheres atendidas pelo SUS e a outra metade, de clínicas particulares. "Não houve diferença entre os grupos", afirma Fonseca, que é presidente da comissão de medicina fetal da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).

"Os números que nós encontramos são muito semelhantes aos de um estudo feito em Pelotas (RS) há seis anos. A situação não melhorou desde então."

O fechamento do tubo neural acontece entre a segunda e a quarta semana de gravidez. No Brasil, segundo pesquisa da Fiocruz com 22 mil mulheres, 55% das gestações não são planejadas.

"Em geral, a mulher só chega ao médico de dois a três meses depois do início da gravidez, o que já é uma fase tardia para o início da suplementação", afirma o médico.

Por isso, um dos focos da campanha da Febrasgo é estimular médicos a informar as mulheres sobre a importância do suplemento durante as consultas anuais.

A fortificação de farinhas de trigo e de milho com ácido fólico, obrigatória no Brasil desde 2004, consegue reduzir em 39% a ocorrência das malformações.

"Mas essa medida não atinge a todas. Muitas mulheres hoje adotam dietas da proteína, com baixa ingestão de carboidrato. Por isso é melhor usar as duas formas de prevenção: a alimentação fortificada e a suplementação."