Novas técnicas abrem
possibilidade de transplante de medula óssea em idosos
Mudança do perfil
do transplantado se deve à descoberta de novas drogas e à evolução de técnicas
médicas de outras instâncias para fazer os assentamentos
10 de setembro de 2012 | 22h 30
A descoberta de novas drogas e
a evolução de técnicas médicas têm mudado o perfil dos pacientes que recebem
transplante de medula óssea de doador – aparentado ou não. Há 15 anos, por
conta dos riscos, pessoas com mais de 55 anos não eram submetidas ao
procedimento. Hoje, hospitais particulares e universitários já fazem o
transplante naqueles com mais de 70 anos. A mudança no perfil do transplantado
foi um dos temas do 16.º Congresso da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula
Óssea (SBTMO), no mês passado.
Dois estudos recentes dão
esperanças às pessoas com mais de 70 anos que precisam de transplante de medula
óssea de um doador, os chamados transplantes alogênicos. Um deles foi o
levantamento feito pelo Registro Internacional de Transplante de Medula Óssea
(CIBMTR, na sigla em inglês), com base em outras pesquisas, que encontrou
resultados similares em pacientes jovens e idosos para o chamado transplante
não mieloablativo – isso quer dizer que a medula óssea do paciente não precisou
ser bombardeada por altas doses de radioterapia ou químio.
“Os médicos chegaram à
conclusão de que nem sempre é necessário. Pode-se dar menor dose de químio ou
de rádio, só para permitir que a célula do doador seja enxertada no paciente.
Essa célula é capaz de fazer algumas reações imunológicas e lutar contra a
doença, como, por exemplo, a leucemia”, explica Nelson Hamershlack,
hemoterapeuta do Hospital Israelita Albert Einstein e sócio fundador da SBMTO.
Essa é uma das técnicas
utilizadas no Hospital Universitário da Unicamp. “Ela reduz de maneira
importante a toxicidade do procedimento. É uma técnica consolidada no mundo
inteiro e no Brasil e permitiu que pessoas mais combalidas fizessem o
transplante”, afirma o onco-hematologista Carmino Antonio de Souza, presidente
da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH).
Outro estudo foi feito em
parceria pelo MD Anderson Cancer Center, no Texas, e o Einstein. Nesse caso,
foram analisados 79 pacientes, com idades entre 55 e 76 anos, que tiveram a
medula suprimida (transplante mieloablativo) com medicamentos mais modernos e
menos tóxicos. “Esse estudo mostrou que em pacientes sem doenças associadas,
como diabetes, hipertensão, cardiopatias, os resultados também foram semelhantes
aos dos mais jovens”, aponta Hamershlack. Dos pacientes, 71% tiveram remissão
completa.
Expansão. Para o médico, os
dois estudos “documentam” que o transplante alogênico é possível em pacientes
mais velhos, dependendo do tipo de doença e a condição física. “Nosso pleito ao
Ministério da Saúde é de expandir a idade dos pacientes. Há um envelhecimento
da população por causa da melhor qualidade de vida. Nessa idade mais avançada,
doenças como leucemia e síndrome mielodisplásica são mais prevalentes”, afirma
o médico. “A SBTMO já chegou a um consenso. Há possibilidade de expandir a
idade do paciente, em vez de privá-lo dessa solução terapêutica importante.”
Hoje, a portaria ministerial
estabelece que o Sistema Único de Saúde (SUS) reembolsa gastos com transplantes
autólogos (em que são usadas as células-tronco do próprio paciente) em pessoas
com até 75 anos; transplante de doador aparentado, com supressão da medula,
para aqueles com até 65, e até 60 anos para transplante com doador não
aparentado.
“Uma regra dessa acabaria com a
possibilidade de o meu pai nascer de novo”, resume o advogado Diego Nicolau
Rodriguez, de 29 anos, filho do cirurgião cardiovascular Antonio Rodriguez
Souza, de 74 anos, que recebeu a infusão de células-tronco da irmã, de 82, no mês
passado.
O médico, que sofria de
mielodisplasia – mal funcionamento da medula óssea, que leva à produção
inadequada das células sanguíneas –, passou pelo procedimento no Einstein, em
1.º de agosto. Durante mais de ano, Souza foi tratado com medicamentos e
transfusões de sangue, até que o estado de saúde se agravou e o transplante se
tornou a única alternativa.
“Foi traumático, mas foi um
sucesso. Mostra que uma pessoa mais velha pode tanto ser doadora como
receptora. Meu pai já não tinha chance nenhuma. Agora, poderá ver o casamento
da minha irmã, daqui a seis meses.”